NotíciasTendências

Tomar café está ficando caro demais — e o motivo revolta clientes

Você se senta em uma cafeteria para aquele momento de pausa, abre o notebook, pede um café e começa a trabalhar. Tudo parece normal — até que, discretamente, o preço da sua xícara começa a subir. Não porque você pediu mais uma, mas porque… está demorando demais.

Essa cena, que parece absurda, já é realidade em lugares como Madri e Barcelona e pode, em breve, se espalhar pelo mundo.

A cobrança extra pelo tempo de permanência à mesa, adotada por diversos estabelecimentos nas zonas turísticas dessas cidades, tem despertado indignação e questionamentos profundos sobre o valor do tempo, da experiência e da própria cultura do café.

O que antes era símbolo de acolhimento e tranquilidade, agora corre o risco de se tornar uma corrida contra o relógio. Mas por quê? E quem ganha — ou perde — com essa nova lógica?

O tempo que você passa na mesa agora custa mais que o próprio café; entenda o que está acontecendo e como evitar os gastos a mais.
O tempo que você passa na mesa agora custa mais que o próprio café; entenda o que está acontecendo e como evitar os gastos a mais – Foto: reprodução/ Pixabay.

Pague pelo café… e pelo tempo que passar com ele

Em lugares como o famoso “Caffè Perfetto”, um café pedido por €1,30 pode saltar para €4 se o cliente ultrapassar 60 minutos na mesma mesa. A justificativa? “Mais tempo, mais espaço ocupado, menos clientes atendidos”, dizem os donos. Para muitos, isso não passa de um jeito elegante de impor uma taxa invisível para garantir maior rotatividade e, claro, maior faturamento.

Mas o que seria um movimento compreensível para alguns donos de café, vira um campo minado para a fidelização de clientes. Afinal, é difícil manter a imagem de acolhimento enquanto se monitora o relógio a cada gole.

Segundo empresários do setor, a medida é necessária. Os aluguéis aumentaram, a inflação pressiona, e a quantidade de nômades digitais e turistas que ocupam mesas por horas sem consumir muito aumentou drasticamente. A solução encontrada foi transformar o tempo em moeda — literalmente.

Veja mais: Dono de cafeteria revela segredo para economizar nas compras do café

“Cultura do café” em risco?

A prática não seria tão polêmica se o café fosse visto apenas como bebida. Mas não é. O ritual de tomar um café, especialmente em países como Espanha, Itália, Brasil ou França, está intrinsecamente ligado à convivência, à pausa, à conversa e até ao trabalho informal.

O conceito de que o tempo à mesa é parte da experiência faz parte da identidade das cafeterias — e não apenas do cardápio. Interferir nisso é interferir na alma do negócio, dizem críticos.

No entanto, alguns empreendedores argumentam que não se trata de “expulsar” clientes, mas de criar consciência de que o espaço é compartilhado e limitado. Para eles, o sistema é semelhante a pagar por horas em um estacionamento — ou como alugar um coworking, só que com espresso incluso.

Leia também: Onda de “café fake” é iniciada com alta no valor do produto, saiba como identificar

Clientes entre a indignação e o boicote

A internet reagiu. E com força. Posts revoltados se multiplicaram, com frases como “O café ficou amargo” ou “Cobrar pelo tempo? Só pode ser piada!”.

Muitos usuários denunciaram a prática como elitista, excludente e até desumana. Para eles, isso desconecta o cliente da essência do que significa tomar um café: um momento de liberdade.

Outros, porém, enxergam a situação com pragmatismo. “Se eu pago por tempo em um coworking, por que não pagaria por tempo numa cafeteria que oferece conforto, internet, tomada e silêncio?”, comentou um usuário nas redes sociais.

A questão, então, não é apenas o valor, mas a transparência: avisar com clareza que o modelo é diferente e permitir que o cliente escolha.

Vai chegar ao Brasil? O relógio já está correndo

Ainda não há registros dessa prática em solo brasileiro, mas especialistas acreditam que ela pode ser testada em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, especialmente em regiões turísticas ou comerciais.

Cafeterias badaladas que oferecem ambiente para trabalhar, acesso a wi-fi e até tomadas para carregar dispositivos podem acabar adotando o sistema como forma de equilibrar conforto e lucratividade.

Mas o desafio será grande: o brasileiro vê no café mais do que uma bebida — vê um gesto de acolhimento, um convite à conversa, um ponto de encontro. Cobrar por isso, mesmo que de forma indireta, pode ser interpretado como uma ruptura cultural.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo