Ele poderia ter parado há décadas. Poderia ter se aposentado quando conquistou seu primeiro bilhão, ou quando sua holding passou a valer mais do que muitas economias nacionais. Mas Warren Buffett nunca foi movido pelo luxo, tampouco pelo status. Aos 94 anos, o lendário investidor finalmente anunciou o que muita gente achava que nunca aconteceria: ele vai se aposentar.
A notícia foi revelada durante a tradicional assembleia da Berkshire Hathaway, realizada no dia 3 de maio.
Mas o que parecia ser apenas mais um encontro anual com acionistas acabou se tornando um marco na história dos negócios. Buffett deixará oficialmente o comando da empresa até o fim de 2025, encerrando uma era que moldou o capitalismo moderno.
O anúncio pegou muitos de surpresa, mas foi recebido com reverência. Afinal, não se trata de qualquer executivo: é o quinto homem mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 166,4 bilhões, segundo a Forbes. Mas há algo ainda mais impressionante do que os números.

Berkshire Hathaway: de tecelagem falida a império bilionário
Quando Buffett comprou ações da Berkshire Hathaway em 1962, a empresa era apenas uma decadente fabricante têxtil. Mas ele enxergou algo que ninguém mais via: potencial escondido onde todos viam ruínas.
Em 1965, assumiu o controle e, ao longo das décadas, a transformou no conglomerado mais respeitado do planeta.
Com uma estratégia paciente — mas incrivelmente precisa — Buffett usou os lucros das operações para investir em empresas subvalorizadas. E mais: utilizou o “float” das seguradoras — o dinheiro recebido antes de pagar sinistros — como combustível para multiplicar sua capacidade de investimento.
O resultado? Um portfólio de fazer inveja a qualquer banco central: Apple (US$ 135 bilhões), Bank of America (US$ 35 bi), Coca-Cola (US$ 25 bi), American Express (US$ 28 bi).
Sem contar as empresas que controla integralmente, como a Geico, a Duracell e a Dairy Queen. Mas, mesmo com tamanho poder, Warren jamais perdeu a simplicidade.
O bilionário que mora na mesma casa desde 1958
Enquanto CEOs ostentam mansões, iates e carros de luxo, Buffett segue vivendo na mesma casa em Omaha desde 1958.
Compra hambúrguer no drive-thru, dirige seu próprio carro e evita jantares glamourosos. Esse estilo de vida quase espartano sempre foi parte de sua filosofia: viver com menos, pensar com mais clareza.
E talvez por isso tenha acumulado tamanha riqueza — e dado boa parte dela de volta ao mundo. Buffett já doou mais de US$ 60 bilhões, principalmente para a Fundação Bill & Melinda Gates.
Criou o movimento Giving Pledge, que convida bilionários a doarem pelo menos metade de suas fortunas. Mas ele foi além: se comprometeu a doar 99% de tudo que possui.
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Uma voz ativa até o fim — mas com um plano claro de sucessão
Apesar da aposentadoria, Buffett não pretende desaparecer. Seu envolvimento na filantropia deve continuar, e ele garantiu que o legado da Berkshire está em boas mãos.
Embora o nome do sucessor direto como CEO ainda não tenha sido confirmado no anúncio, o mais cotado é Greg Abel, que já supervisiona as operações não seguradoras da empresa — e conta com a confiança explícita do próprio Buffett.
Além disso, Charlie Munger, seu sócio e braço direito por décadas, faleceu em 2023 aos 99 anos. A saída de Buffett encerra um ciclo duplo, deixando o mercado em compasso de expectativa.
Mas ele não deixa apenas uma empresa bem estruturada. Deixa uma escola de pensamento. Buffett ensinou que investir não é correr atrás de lucros rápidos, mas sim construir riqueza com paciência, inteligência e integridade.
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O fim de uma era — ou o início de uma nova?
Warren Buffett está se aposentando. Mas sua presença no mundo dos negócios será sentida por muito tempo. Seu estilo de liderança, suas cartas aos acionistas, sua capacidade de manter a calma durante crises e de investir quando todos vendem — tudo isso se tornará cada vez mais lenda.
Em um mundo onde a ansiedade domina os mercados e os resultados trimestrais pressionam até os gigantes, Buffett foi a lembrança viva de que visão de longo prazo é uma virtude rara — e extremamente valiosa.
E, ao que tudo indica, sua despedida não será o fim. Será o começo de uma nova fase para a Berkshire Hathaway — e para todos que se inspiraram em sua trajetória.