Seu cérebro APAGOU suas memórias antes dos 7 anos – e a ciência explica o motivo
Nos primeiros anos de vida, passamos por transformações incríveis. Aprendemos a engatinhar, falar, sorrir e interagir com o mundo à nossa volta. No entanto, apesar de tantas experiências marcantes, quase ninguém consegue lembrar dos próprios primeiros passos ou das palavras que disse quando bebê.
Esse fenômeno, chamado de amnésia infantil, intriga cientistas há décadas. No passado, teóricos como Freud sugeriam que esquecíamos essas memórias por uma espécie de bloqueio psicológico. Mas as descobertas mais recentes indicam que a explicação pode estar na própria biologia do nosso cérebro em desenvolvimento.
Pesquisas atuais mostram que o hipocampo — a parte do cérebro responsável pela memória episódica — ainda não está totalmente maduro nos primeiros anos de vida. E isso pode explicar por que registramos tanta coisa sem conseguir acessar essas lembranças mais tarde.

As memórias existem, mas ficam fora do alcance
Um dos maiores avanços no estudo da amnésia infantil veio com os experimentos do professor Nick Turk-Browne, da Universidade de Yale. Ele investigou como os bebês reagem a imagens que já viram antes, mesmo sem conseguir verbalizar o que lembram. A ideia era observar o funcionamento da memória na prática.
Usando um método conhecido como ressonância magnética funcional, os cientistas conseguiram mapear a atividade cerebral dos bebês enquanto eram expostos a essas imagens repetidas. O que surpreendeu foi a ativação do hipocampo em crianças com mais de um ano, indicando que o cérebro já tentava armazenar lembranças.
Mesmo assim, essas memórias parecem se perder com o tempo. A teoria mais aceita hoje é que elas não desaparecem por completo, mas se tornam inacessíveis à consciência. Ou seja, os registros ainda existem — apenas não conseguimos resgatá-los com facilidade.
Essa hipótese abre caminho para entender melhor como funciona a consolidação da memória e até mesmo se seria possível “reacessar” lembranças da primeira infância por meio de estímulos específicos no futuro.
O hipocampo e o enigma da amnésia infantil
O hipocampo é uma estrutura essencial para a formação de memórias duradouras. Mas nos primeiros meses de vida, ele ainda está em desenvolvimento, o que compromete a capacidade de consolidar experiências de maneira permanente e acessível no futuro.
Mesmo com essa limitação, os engramas — estruturas neuronais onde as lembranças são registradas — já começam a se formar. A grande dúvida é: o que impede o cérebro de acessá-los anos depois? Essa é uma das perguntas que Turk-Browne tenta responder com novos experimentos.
Ao estudar a reação de crianças pequenas a estímulos visuais, os pesquisadores perceberam que muitas delas demonstram reconhecimento, mesmo sem ter lembrança verbal daquilo. Isso indica que existe algum tipo de registro inconsciente ou memória implícita em funcionamento.
Essas descobertas têm implicações profundas. Se memórias da infância permanecem, mesmo que inacessíveis, elas podem estar influenciando nossas emoções, comportamentos e até nossas decisões sem que percebamos — como uma história que vivemos, mas não conseguimos contar.
Como lembranças esquecidas moldam quem somos
Ainda que não possamos reviver com clareza os momentos da nossa infância, isso não significa que eles sejam irrelevantes. Pelo contrário: essas experiências moldam aspectos fundamentais da nossa personalidade, como nossas emoções, forma de nos relacionar e maneira de lidar com o mundo.
Os primeiros anos de vida são um período sensível, onde aprendemos a confiar, a interagir e a reconhecer padrões afetivos. Mesmo que não lembremos de cada detalhe, essas vivências ficam registradas em alguma camada do cérebro — e ajudam a construir nossa identidade.
A ciência ainda busca compreender como essas memórias influenciam nossa vida adulta. O que se sabe até agora é que traumas, afeto, ambiente familiar e experiências precoces podem deixar marcas profundas, visíveis nas nossas escolhas e reações.
Por isso, entender a amnésia infantil vai além da curiosidade sobre o passado. É também uma forma de entender como nos tornamos quem somos — e como o que esquecemos ainda pode viver dentro de nós, silenciosamente moldando nossa história.