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Experimento que dura 98 anos pode revelar algo surpreendente

Uma gota está prestes a cair — mas não é qualquer gota. Trata-se da décima gota de um experimento que começou ainda na década de 1920, e que hoje detém o título de experimento científico mais longo do mundo.

Pode parecer exagero, mas essa gota é aguardada com tamanha ansiedade que já mobilizou cientistas, câmeras, prêmios e até o Guinness Book.

No coração de um laboratório da Universidade de Queensland, na Austrália, um simples funil de vidro repousa há 98 anos, contendo uma substância preta e pegajosa chamada piche, também conhecida como betume.

Mas o que parece uma peça de museu inerte é, na verdade, o centro de um dos experimentos mais fascinantes — e mais lentos — já feitos na história da ciência.

Mas por que esse experimento ainda importa? O que ele está tentando provar? E por que o mundo inteiro está, literalmente, esperando cair uma gota?

A resposta revela muito mais sobre a matéria e sobre o tempo do que você imagina.

Um simples experimento pode durar décadas para registrar mudanças singelas e muito interessantes; entenda melhor como funciona.
Um simples experimento pode durar décadas para registrar mudanças singelas e muito interessantes; entenda melhor como funciona – Foto: reprodução/ Pixabay.

O líquido que se comporta como sólido (mas não é)

O piche, ou betume, é uma substância derivada do petróleo. À primeira vista, ele parece sólido — você pode até bater nele e ele resistirá como uma rocha. Mas não se engane.

Ele é, tecnicamente, um líquido, com uma viscosidade cerca de 230 bilhões de vezes maior que a da água.

Foi exatamente essa característica que chamou a atenção do professor Thomas Parnell, em 1927. Na tentativa de mostrar a seus alunos que a matéria pode se comportar de maneiras diferentes quando observada em escalas de tempo muito longas, ele criou o experimento do piche.

Primeiro, aqueceu o material para que se tornasse maleável. Depois, despejou-o em um funil de vidro. Só então começou a longa espera: três anos para o piche se acomodar no funil. Em 1930, cortou o bico do funil e esperou… pela primeira gota.

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Uma gota a cada década do experimento: e ainda assim, nem sempre é possível ver

Desde então, apenas nove gotas caíram. Isso mesmo: em quase um século de experimento, foram apenas nove eventos. E nem todos foram documentados.

Em 2000, por exemplo, a gota caiu horas antes da instalação da câmera que deveria registrá-la. Em 2010, um problema técnico impediu a gravação da nona gota.

Foi só em 2014 que o fenômeno foi finalmente registrado em vídeo — mas em um experimento paralelo, realizado no Trinity College, em Dublin. Um marco científico, sem dúvida, mas também um símbolo da frustração e da persistência dos pesquisadores australianos.

Hoje, o experimento é monitorado em tempo real. Uma vitrine de acrílico protege o funil, e a ansiedade pela décima gota cresce a cada ano. Mas ninguém sabe quando ela vai cair. Pode ser no ano que vem. Ou pode demorar outra década.

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Ciência, paciência e um lugar no Guinness Book par ao experimento

Apesar de parecer uma excentricidade científica, o “Experimento do Piche” não é apenas curioso — ele é fundamental para entendermos as propriedades da matéria, especialmente a transição entre estados físicos e o comportamento de substâncias altamente viscosas.

Em 2005, o experimento recebeu o Prêmio Ig Nobel de Física, uma sátira ao Nobel que celebra estudos inusitados, mas cientificamente relevantes.

E, mais recentemente, foi oficialmente reconhecido pelo Guinness Book como o experimento científico contínuo mais longo da história.

Após a morte de Parnell, o projeto foi assumido por John Mainstone, que o manteve ativo por décadas. Hoje, a responsabilidade é do professor Andrew White, que garante a continuidade e a integridade do experimento — mesmo que ele nunca veja a próxima gota cair.

Em uma era marcada pela velocidade da informação, pela ansiedade do imediatismo e pela obsessão por resultados rápidos, o “Experimento do Piche” é um lembrete raro e poderoso: algumas descobertas não podem ser apressadas.

Enquanto a ciência corre para decifrar os grandes enigmas do universo, uma simples gota de piche nos convida a olhar com calma, paciência e reverência para os fenômenos invisíveis ao nosso tempo.

E, talvez, a próxima gota caia quando ninguém estiver olhando — ou talvez seja o momento exato em que o mundo inteiro estará assistindo.

Afinal, o tempo da ciência pode ser lento, mas cada segundo conta — até o último escorrer pela ponta de um funil.

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