Milhões de brasileiros acordaram em 2025 com a esperança de um alívio no bolso. Afinal, o novo salário mínimo foi finalmente anunciado, trazendo consigo uma promessa: ganho real acima da inflação.
Mas, enquanto a manchete parece animadora, a realidade dentro da carteira do trabalhador ainda está longe de ser tão otimista quanto os números fazem parecer.
O governo federal anunciou que o novo valor do salário mínimo é de R$ 1.518, representando um reajuste de 7,5% em relação ao ano anterior.
A fórmula utilizada, que combina o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) com o crescimento do PIB de dois anos atrás, deveria garantir não apenas reposição da inflação, mas também aumento real. Só que nem tudo é tão simples quanto parece.
O valor foi oficializado em abril, mas com aplicação retroativa desde janeiro. Isso significa que os trabalhadores com salário base nesse piso têm direito à diferença acumulada nos meses anteriores.
Mas, mesmo com o reajuste, o impacto no poder de compra continua abaixo do necessário para cobrir o custo de vida — e é aí que o brasileiro se pergunta: valeu a pena?

Reajuste acima da inflação, mas descontos corroem o valor
Num primeiro momento, o aumento é comemorado. Mas basta olhar para o contracheque para perceber que a diferença entre o valor bruto e o líquido é grande demais para passar despercebida. A renda que chega ao bolso do trabalhador é diluída em uma série de descontos obrigatórios:
- INSS (varia de 7,5% a 14%)
- Imposto de Renda (dependendo da faixa)
- Vale-transporte
- Contribuições sindicais
- Empréstimos consignados, se houver
Com isso, muitos trabalhadores veem seu salário final cair para algo entre R$ 1.200 e R$ 1.300 líquidos, o que compromete diretamente o planejamento financeiro de quem já vive no limite.
Além disso, os reajustes de preços em alimentação, transporte, aluguel e energia continuam corroendo o poder de compra, tornando o ganho real um alívio momentâneo — mas não uma solução duradoura.
Salário mínimo x salário ideal: a distância ainda é brutal
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo necessário para cobrir as despesas básicas de uma família com quatro pessoas deveria ser de R$ 6.900,00 em 2025. O valor atual cobre menos de 22% desse montante.
Ou seja, o trabalhador que vive exclusivamente com o mínimo está muito longe de garantir acesso pleno à moradia digna, alimentação saudável, transporte eficiente, saúde, educação e até mesmo lazer. E embora um reajuste mais agressivo pudesse ajudar, ele também ameaçaria o equilíbrio das contas públicas e poderia gerar efeitos colaterais como:
- Aumento da informalidade
- Desemprego em setores mais frágeis
- Pressão inflacionária
É um dilema complexo: subir pouco ajuda pouco, mas subir muito pode prejudicar a todos.
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Estados com piso regional tentam driblar defasagem
Embora o salário mínimo nacional seja uma referência unificada, alguns estados brasileiros estabeleceram seus próprios pisos salariais, ajustados à realidade econômica local.
São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, adotam valores acima do mínimo federal para determinados setores.
Essa prática busca compensar o custo de vida elevado dessas regiões, mas não resolve a desigualdade entre os estados mais ricos e os mais pobres — apenas mitiga parte dos efeitos em determinados grupos de trabalhadores.
Vale lembrar que, legalmente, nenhum piso estadual pode ser inferior ao nacional, o que mantém o salário mínimo federal como o teto mínimo absoluto, mesmo para locais com custo de vida mais baixo.
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No fim das contas, o que realmente mudou para o trabalhador?
Sim, houve um ganho real. Sim, o novo valor já está em vigor desde janeiro. Mas, na prática, o impacto na qualidade de vida ainda é limitado.
A defasagem entre o salário mínimo e o salário necessário continua enorme. E, com os preços pressionando cada vez mais os orçamentos das famílias, o brasileiro segue fazendo malabarismos para fechar o mês.
O salário mínimo é muito mais do que um número: ele representa a régua da dignidade para milhões de pessoas. E enquanto ele continuar distante da realidade do povo, qualquer reajuste parecerá apenas um paliativo.