À primeira vista, a paisagem ao redor do monte Uturuncu, nos Andes bolivianos, parece silenciosa, serena, até intocada. Mas esse silêncio pode estar prestes a ser rompido. Após cerca de 250 mil anos sem qualquer sinal de atividade, o vulcão voltou a chamar a atenção da comunidade científica — e não foi por acaso.
Pequenos tremores, deformações do solo e a liberação de gases alertaram pesquisadores de diversos países. Mas o que parecia ser apenas uma anomalia isolada ganhou contornos mais sérios com as novas descobertas feitas nas últimas semanas.
A questão que paira no ar é: o que realmente está acontecendo sob a crosta terrestre do Uturuncu? E será que uma erupção está prestes a acontecer, mesmo após centenas de milhares de anos de inatividade?
O gigante que dormia pode estar prestes a despertar
O Uturuncu é um vulcão localizado em uma das regiões mais altas da Bolívia. Embora muitos sequer soubessem de sua existência, ele abriga, abaixo de sua estrutura, o maior corpo de magma já identificado na crosta terrestre. Isso, por si só, já seria motivo de atenção. Mas agora, há mais: ele está se movimentando.
Desde a década de 1990, cientistas vêm monitorando deformações anormais no solo da região. A elevação gradual do terreno central e o rebaixamento das áreas periféricas criaram uma estrutura curiosa, chamada informalmente de “sombrero”. Pode parecer pouco, mas um centímetro de elevação por ano, em termos geológicos, é um sinal de alerta.
Esses movimentos indicam que há pressão acumulada. E quando o magma se movimenta, a crosta responde. O problema é que não há como prever exatamente quando — ou se — essa pressão se tornará uma erupção.
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Pesquisas revelam o que ninguém esperava encontrar
Diante do aumento dos sinais de atividade, uma força-tarefa internacional foi mobilizada. Pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e China, entre outros, se uniram para estudar o fenômeno. O objetivo? Entender se o Uturuncu está, de fato, acordando.
Com tecnologias semelhantes às usadas em tomografias, os cientistas mapearam o subsolo usando ondas sísmicas. O que descobriram foi surpreendente: há canais subterrâneos que transportam magma e gases em direção a reservatórios próximos à superfície. Esse sistema está longe de ser estático — ele está pulsando.
A movimentação de magma, combinada com os gases aprisionados, é o que está por trás dos tremores e das deformações. Ainda que os pesquisadores não vejam um risco iminente de explosão, todos concordam que o vulcão precisa ser monitorado 24 horas por dia.
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Como essa descoberta pode mudar o monitoramento de vulcões no mundo
A importância do caso Uturuncu vai além das fronteiras da Bolívia. As tecnologias e metodologias aplicadas ali podem ser replicadas em centenas de outros vulcões — inclusive em muitos considerados inativos, mas que mostram sinais de reativação.
Com mais de 1.400 vulcões ativos espalhados pelo planeta, o avanço das pesquisas nessa área é vital. As lições aprendidas com o Uturuncu podem ser a chave para salvar vidas e evitar catástrofes em outras regiões com riscos geológicos.
Além disso, o estudo reforça o papel da ciência na prevenção de desastres naturais. Muitas vezes, os maiores perigos não são os que fazem barulho, mas os que operam em silêncio, sob nossos pés, acumulando pressão até não poder mais ser contida.
O que ainda está por vir?
Por enquanto, o vulcão permanece quieto, mas os sinais se intensificam. E embora os especialistas reforcem que uma erupção ainda não é provável no curto prazo, eles também reconhecem: a natureza é imprevisível.
O caso do Uturuncu serve de lembrete de que, mesmo os gigantes adormecidos, podem — e vão — acordar. A pergunta é: estaremos prontos quando isso acontecer?
