2 anos depois da Covid: por que milhões de alunos ainda não superaram o atraso escolar?
Quatro anos após o início da pandemia, o impacto na educação básica brasileira ainda é evidente. Mesmo com avanços pontuais, os níveis de aprendizagem dos alunos continuam abaixo do que era observado antes da crise sanitária.
É o que mostra o estudo “Aprendizagem na Educação Básica: Situação Brasileira no Pós-Pandemia”, divulgado nesta segunda-feira (28), Dia Mundial da Educação, pelo movimento Todos Pela Educação.
Mais do que evidenciar perdas de desempenho, o relatório mostra como as desigualdades raciais e socioeconômicas se aprofundaram, tornando a recuperação educacional ainda mais desafiadora em diversas regiões do país.

Recuperação lenta e desigual nos anos escolares
A pesquisa se baseou em dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), medindo o desempenho dos alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e do ensino médio em matemática e língua portuguesa.
Em quase todos os recortes, os índices de aprendizagem em 2023 continuam abaixo dos níveis registrados em 2019.
No 5º ano do ensino fundamental, por exemplo, 55,1% dos alunos atingiram a aprendizagem adequada em português, contra 56,5% antes da pandemia.
Em matemática, o percentual caiu de 46,7% para 43,5%. A situação é ainda mais preocupante no ensino médio: apenas 5,2% dos estudantes demonstraram aprendizagem adequada em matemática, um recuo em relação aos já baixos 6,9% de 2019.
O cenário mostra que, mesmo com a reabertura das escolas e os esforços de recomposição, a recuperação do aprendizado segue em ritmo lento e desigual.
Desigualdade racial cresce e reforça barreiras históricas
O estudo também escancara o avanço das desigualdades raciais. Alunos pretos, pardos e indígenas seguem com desempenho inferior ao de colegas brancos e amarelos, e a diferença entre esses grupos aumentou ao longo da última década.
No 5º ano, por exemplo, a distância entre os grupos em língua portuguesa cresceu de 7,9 pontos percentuais em 2013 para 8,2 pontos em 2023. No ensino médio, essa diferença saltou para 14 pontos percentuais em língua portuguesa.
Esses dados reforçam que a pandemia agravou injustiças educacionais que já existiam, e que a superação dessas desigualdades exige políticas públicas consistentes, com foco em inclusão, equidade e qualidade do ensino.