Dados são previsíveis! Você achava que era sorte? Ciência mostra o contrário
A cena é conhecida: alguém lança dois dados sobre a mesa, e todos seguram a respiração por um segundo. O suspense se concentra nas pequenas peças rolando até pararem, revelando um número que pode definir o destino de uma aposta, uma jogada ou até mesmo o rumo de uma história em um jogo de RPG. Mas e se essa emoção for uma ilusão? E se o resultado não for tão aleatório quanto acreditamos?
Durante séculos, os dados foram símbolo absoluto da sorte — imprevisíveis, incontroláveis e, justamente por isso, tão cativantes. Mas a ciência, mais uma vez, resolveu desafiar o senso comum.
Pesquisadores da Universidade Técnica de Lodz, na Polônia, e o renomado matemático Persi Diaconis, de Stanford, vêm demonstrando que essa aleatoriedade pode ser apenas aparente. Segundo eles, os dados podem sim ser previsíveis — mas há um grande “porém”.
A ideia parece simples: se conhecermos todos os fatores físicos envolvidos no lançamento — como força, rotação, ângulo e superfície —, poderíamos prever o número que vai sair.
Mas, na prática, controlar todas essas variáveis é tão difícil quanto parece. Ainda assim, a possibilidade de que a sorte tenha menos a ver com acaso e mais com física está intrigando cientistas e jogadores ao redor do mundo.

Dados seguem leis da física, mas poucos conseguem dominá-las
Os dados parecem rodar de forma caótica, mas, para a física, nenhum movimento é realmente aleatório. Persi Diaconis, que além de matemático é também ex-mágico profissional, afirma que um lançamento de dado obedece às leis da mecânica clássica.
Com isso, se for possível medir as variáveis com precisão suficiente, o resultado pode ser antecipado com altíssimo grau de acerto.
Mas o problema é justamente esse: medir com exatidão mais de 12 variáveis — como rotação, ponto de contato, inclinação da superfície, resistência do ar e força aplicada — é algo extremamente complexo. Na prática, só seria possível prever o número com a ajuda de tecnologia avançada, como sensores de alta velocidade e softwares de modelagem 3D.
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Ou seja, prever o resultado de um dado é possível na teoria, mas quase impraticável no cotidiano. O que não impede que essa descoberta abale uma crença secular: a de que os dados são instrumentos de puro acaso.
Mas o problema pode estar dentro do próprio dado
Se os fatores externos são difíceis de controlar, os internos também não são tão perfeitos assim. Os estudos mostram que os próprios dados — especialmente os usados em jogos de RPG, como os poliédricos de 20 lados — podem apresentar desequilíbrios físicos que favorecem certos números.
Diferenças sutis na distribuição de massa, falhas de fabricação, pequenos sulcos e imperfeições nas bordas influenciam a forma como o dado rola.
E isso muda, mesmo que de forma mínima, a probabilidade de cada número aparecer. Algumas faces, segundo testes, são naturalmente menos frequentes — e isso já é suficiente para comprometer a ideia de aleatoriedade pura.
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No mundo dos cassinos, inclusive, dados passam por testes rigorosos para garantir simetria quase perfeita. Mas mesmo nesses ambientes, a margem de erro — por menor que seja — pode ser explorada por quem entende de estatística e probabilidade. No mundo real, no entanto, essa margem passa despercebida por praticamente todos os jogadores.
A ilusão da sorte ainda encanta — e isso não deve mudar tão cedo
Mesmo com a ciência apontando que o acaso talvez não seja tão aleatório assim, a verdade é que, para a maioria das pessoas, isso muda muito pouco. Afinal, não jogamos dados com sensores acoplados ou analisadores de força. Lançamos, torcemos, esperamos — e celebramos ou lamentamos. A imprevisibilidade, mesmo que teórica, ainda é real para quem joga.
Na prática, o dado continua sendo uma ferramenta de emoção. Ele carrega a incerteza que torna os jogos envolventes e as histórias imprevisíveis.
O fato de a ciência conseguir prever, com ferramentas complexas, o resultado de um lançamento não tira o fator humano da equação. Pelo contrário: só torna o jogo ainda mais fascinante.