NotíciasTendências

Você já disse isso para seu filho e nem imagina o estrago

No meio da correria do dia a dia, entre o trânsito, o trabalho e as responsabilidades que parecem não ter fim, os adultos acabam dizendo coisas sem pensar. É compreensível. Mas quando essas palavras são dirigidas a uma criança, o impacto pode ser muito maior do que imaginamos — e, muitas vezes, irreversível.

Pais não nascem prontos. Educadores também erram. Mas há erros que se repetem tanto que viram padrão. E o padrão, nesse caso, está comprometendo um dos pilares mais importantes da formação infantil: a inteligência emocional. A maioria dos pais quer proteger, mas acaba ferindo. Quer incentivar, mas acaba comparando. Quer ensinar, mas silencia.

É aí que mora o problema. Frases aparentemente inofensivas podem deixar cicatrizes invisíveis, moldando como a criança enxerga a si mesma, os outros e o mundo. E o mais assustador? Quase ninguém percebe isso até ser tarde demais.

Palavras têm um poder gigante quando ditas de um adulto para seu filho ou sua filha; entenda o que significa e tome cuidado.
Palavras têm um poder gigante quando ditas de um adulto para seu filho ou sua filha; entenda o que significa e tome cuidado – Foto: divulgação/ Sora.

Elas parecem inofensivas, mas deixam marcas profundas no filho

“Para de chorar”, “não precisa ter medo”, “porque eu disse” — essas frases estão no repertório de quase todos os lares. Mas especialistas alertam: silenciar ou invalidar emoções infantis pode comprometer o desenvolvimento emocional e psicológico da criança.

Dizer “não precisa ter medo” pode parecer encorajador. Mas, segundo a psicóloga Blanca Torres, o efeito é o oposto. A criança aprende que sentir medo é errado, e que, portanto, deve esconder seus sentimentos — o que favorece a repressão emocional e dificulta o enfrentamento de situações futuras.

O mesmo vale para frases como “fica calmo” ou “engole o choro”. Em vez de ensinar autocontrole, elas sugerem que sentir é errado. A criança não aprende a lidar com a emoção — apenas a engolir o que sente. Mas sentimentos não desaparecem; eles se acumulam. E mais cedo ou mais tarde, explodem.

Comparações e críticas: quando o amor fere sem intenção

Outra armadilha comum está nas comparações entre irmãos ou colegas, como “por que você não é como seu irmão?” ou “seu primo faz tudo certo”. A intenção pode até ser motivar, mas o efeito é devastador. Segundo a educadora Mariana Martínez, esse tipo de fala mina a autoestima e confunde a identidade da criança, que passa a se sentir insuficiente.

Mais graves ainda são as críticas diretas e ofensivas, como “você é burro?” ou “você só faz besteira”. Essas frases não apenas machucam — elas se transformam na voz interna da criança, influenciando como ela vai lidar com desafios, frustrações e autocrítica no futuro. A psicóloga Jazmine McCoy explica que o cérebro infantil absorve essas palavras como verdades absolutas. E revertê-las mais tarde exige anos de terapia e reconstrução emocional.

Mesmo frases ditas em tom de brincadeira podem ter um peso enorme para os pequenos. O que parece “bobagem” para um adulto pode se tornar um gatilho emocional constante para a criança.

Leia também: Descoberta no Japão pode mudar tudo sobre o autismo, mas há um alerta

Mas há uma alternativa: conexão, escuta e reparação com o filho

Nem todo erro é definitivo. Mas repetir os mesmos erros, dia após dia, cria um ambiente hostil para o desenvolvimento emocional. A boa notícia? É possível mudar — e ensinar, ao mesmo tempo, que todos nós podemos evoluir.

Admitir erros, pedir desculpas e explicar o porquê das regras são atitudes simples, mas poderosas. Mostrar que os adultos também têm sentimentos, que também se descontrolam e que também podem reparar seus atos ensina às crianças algo essencial: a vulnerabilidade faz parte da vida — e não deve ser escondida.

Ao invés de “porque eu disse”, tente “vamos conversar sobre isso”. Troque o “para de chorar” por “o que está te deixando tão triste?”. Perguntar, escutar e validar sentimentos não significa perder autoridade — significa criar laços. Laços mais fortes que a raiva. Mais firmes que a gritaria.

Veja mais: Essa casa é minúscula por fora, mas o que tem dentro choca o mundo

O que você diz hoje pode ser a voz que seu filho vai ouvir pelo resto da vida

A construção da inteligência emocional começa cedo. Mas ela não depende apenas da escola, das terapias ou dos livros. Depende, principalmente, das palavras que se repetem dentro de casa.

Então, da próxima vez que o cansaço bater, respire. Porque cada frase dita pode curar — ou machucar. E embora a infância passe rápido, os efeitos do que é dito nela… duram para sempre.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo