iFood aumenta pagamento, mas entregadores reagem de forma inesperada
Eles pediram. Eles protestaram. E, finalmente, receberam uma resposta. Mas não exatamente aquela que esperavam. Nesta terça-feira, 29, o iFood anunciou um reajuste nas taxas mínimas pagas por entrega aos seus entregadores, em uma tentativa de atender a antigas reivindicações da categoria. O anúncio era aguardado há meses — talvez anos — por milhares de trabalhadores que percorrem as cidades sobre duas rodas, pedalando ou acelerando sob sol e chuva.
A princípio, o reajuste pareceu positivo: aumentos nas entregas de bicicleta e moto, melhorias nos benefícios de saúde e até novas políticas exclusivas para mulheres entregadoras. Mas, ao olhar mais de perto, muitos perceberam que os valores ficaram aquém do prometido — e bem distantes do que os entregadores pediram em protestos recentes.
Sim, houve avanço. Mas também houve frustração. E a principal pergunta que se espalhou nos grupos de entregadores, redes sociais e comunidades online foi: isso é suficiente?

O aumento do iFood saiu, mas não atendeu a todas as promessas
O reajuste anunciado inclui um aumento de 7,7% para entregas de bicicleta, que passaram de R$ 6,50 para R$ 7,00, e de 15,4% para motociclistas, que agora receberão R$ 7,50 por trajeto. Mas o alívio inicial logo deu lugar à decepção. Isso porque, em março, os entregadores fizeram um protesto nacional, pedindo uma taxa mínima de R$ 10 por entrega e limite de 3 km por pedido para ciclistas. O iFood, no entanto, manteve a média dos trajetos em 4 km.
A empresa também informou que continuará pagando valores adicionais por entregas extras realizadas na mesma rota e por quilômetro percorrido. Mas não detalhou se esses valores também seriam reajustados — um ponto que gera dúvidas, especialmente porque a inflação acumulada desde o último ajuste, há quatro anos, corroeu o poder de compra da categoria.
Gil Almeida, presidente do Sindimoto-SP, afirmou que é positivo ver algum movimento após tanto tempo de congelamento nas tarifas, mas criticou a insuficiência do reajuste. Segundo ele, o aumento mostra disposição para diálogo, mas ainda está “muito abaixo da realidade enfrentada nas ruas”.
Veja mais:
Revolta?! Brasil aparece mal em ranking de QI, mas há um detalhe oculto
Essa casa é minúscula por fora, mas o que tem dentro choca o mundo
Benefícios melhoraram, mas sem tanta clareza
Além da questão financeira, o iFood anunciou melhorias significativas na cobertura de saúde dos entregadores, especialmente no caso de acidentes. A cobertura por Incapacidade Temporária (DIT) passou de 7 para 30 dias, com reembolso ou pagamento total de despesas médicas em rede credenciada.
Em situações mais graves, como morte ou invalidez, a empresa estabeleceu uma indenização de R$ 120 mil, incluindo auxílio funeral e apoio à família — tanto financeiro quanto psicológico. A promessa parece robusta, mas faltam detalhes práticos: como o benefício será acionado? Quem decide o valor e a forma do auxílio? Qual será a real agilidade na entrega desses recursos?
Já as entregadoras mulheres passarão a contar com uma linha de apoio dedicada, com benefícios que vão desde licença para cuidar dos filhos até assistência em casos de câncer de mama e útero. Também foi prometido um valor anual para autocuidado, mas — mais uma vez — nenhum valor específico foi revelado.
O iFood respondeu, mas o clima entre os entregadores segue tenso
Não dá para negar que houve algum progresso. Mas a resposta do iFood ainda deixa lacunas. Os entregadores estão cansados de promessas vagas. Querem garantias. Querem transparência. E, principalmente, querem dignidade no trabalho. A empresa parece ter dado o primeiro passo. Mas ele é curto demais para quem já corre há tanto tempo.
Com mais de 200 mil entregadores cadastrados na plataforma, o iFood enfrenta a pressão de manter seu modelo de negócio lucrativo sem perder a confiança daqueles que sustentam a operação nas ruas. A situação exige mais que notas oficiais e comunicados genéricos: exige escuta ativa, negociação direta e mudança real.
Enquanto isso, nas redes sociais, o sentimento predominante é o da insatisfação contida. Muitos entregadores afirmam que continuarão pressionando por melhorias. Outros dizem que o reajuste “não paga nem a gasolina”. Mas todos concordam em um ponto: o movimento por condições mais justas está longe de acabar.
A empresa deu sinal de avanço, mas ainda está devendo — não só nos valores pagos, mas também na clareza sobre os direitos oferecidos. Os entregadores, por sua vez, seguem atentos, organizados e mobilizados. E o debate sobre a precarização do trabalho por aplicativo continua pulsando, mais atual do que nunca.